segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Bope na Escola o verdadeiro quadro negro.



Na última sexta 05/09 na escola que trabalho, fiquei assustado ao ver na sala ao lado Policiais do BOPE (Batalhão De Operações Especiais) com armas na mão , rifles, pistolas, e os alunos “meninos” da turma na parede sendo revistados.

Fiquei estarrecido com a situação e curioso por saber o que estava ocorrendo, enquanto segurava meus alunos em sala e conversávamos sobre o que estava acontecendo, um de meus alunos conta como parou na delegacia e como quase foi enquadrado como traficante por conta das 17 latas de Merla que foram encontradas em sua casa, posse de seu irmão que é foragido da polícia e já esteve preso por 3 anos.

No intervalo de minhas aulas fui informado que o motivo para a polícia ter sido chamada foi por aluno(s) de uma das turma terem destruído o quadro branco da sala. A direção da escola chamou o batalhão escolar e infelizmente apareceu o Bope.

Com sua clássica abordagem já retratada fidedignamente em filmes, ocuparam a sala de aula com se ocupassem uma boca de fumo, colocando jovens que em sua grande maioria são trabalhadores e com muito custo se mantém na escola, com mãos na parede para uma revista absurda.

O que eles esperavam encontrar?

Fragmentos do quadro nos bolsos dos alunos?

Será que eles estavam com medo de serem alvejados pelos alunos por isso entraram e se mantiveram de arma em punho com medo de uma possível retaliação dos alunos da turma?

Não satisfeitos com as várias humilhações feitas a turma, mostraram fotos de meninos mortos e outros casos, utilizando de sua pedagogia “infalível” de amedrontar e mostrar que o futuro daqueles alunos pode ser aquela foto (um jovem morto com um tiro na cabeça).

E então? A escola é lugar de polícia?

Será que essa situação era necessária? Será que chegamos ao ponto de entender que os conflitos que ocorrem em nosso espaço escolar só podem ser resolvidos por agentes externos que entendem aqueles jovens como indivíduos de suas estatísticas que possivelmente “foram, são ou serão” bandidos a serem combatidos.

O Bope ou qualquer outro que chegasse, não pode coagir, humilhar, assustar e o que é fundamental não pode julgar ninguém, nem deve ter o poder de sem qualquer argumento que seja válido (minha opinião) tratar ninguém com bandido a partir de um fato que é negativo para escola, mas que nem de longe precisa ser tratado como um problema de polícia.

Qual o próximo estágio?

Será que ao vermos os exemplos de nossos colegas, amigos, alunos e familiares sofrendo com a violência em nossas escolas, vamos tratar apenas como um caso de polícia e a cada desordem em nosso ambiente chamaremos socorro da Polícia/Bope.

Enquanto não encaramos o problema de frente e nos atemos a buscar soluções como toda a comunidade envolvida(nós), só nos resta pedir socorro e assumir que perdemos a competência em atuar naquele espaço. Assumiremos então que sem o poder coercitivo não será possível educar. Que educação é essa?

Um dos policiais teve a audácia de menosprezar os alunos que já estavam em uma das piores situações que podiam imaginar, foram obrigados a ouvir que ele havia passado em primeiro lugar no concurso para a PM, como se esse mérito o colocasse acima de alguém e lhe desse o direito a tratá-los como inferiores.

Fica aqui minha indignação, continuarei buscando dar vazão ao ocorrido afim de abrir portas para um debate qualificado e aberto a comunidade de minha escola e das demais sobre os problemas que estamos enfrentando.

Continuarei colocando vendas em meus alunos, afim de que ao menos um (e hoje um aluno me mostrou que conseguiu compreender a mensagem!!!), consiga enxergar que as vendas não refletem só a desigualdade que um cego passa em nossa sociedade, reflete os olhos que perdemos frente a realidade cruel desse sistema.